O vinho é fundamental na vida de muitos
brasileiros, principalmente nas regiões que tiveram colonização italiana, sendo
que a bebida faz parte da culturalocal. Muito antes disso, egípcios, gregos e
romanos utilizavam essa bebida em sua dieta, inclusive já com uma certa ideia de
que o seu consumo poderia trazer benefícios a saúde. Os gregos, há cerca de 3.000
anos, representam a primeira civilização conhecida a realizar o uso terapêutico
de vinho, visto que em sua cultura se acreditava ser um presente dos deuses1.
Recentemente os potenciais benefícios
terapêuticos do vinho vem ganhando força, sendo tratado amplamente pela
imprensa. É dito que o vinho traz diversos benefícios como atividade
anti-inflamatória, neuroproteção em muitas doenças neurodegenerativas e até
mesmo redução no risco de desenvolvimento de doenças coronarianas e câncer2.
O principal agente dito responsável por tais efeitos é um polifenol presente na
bebida: o resveratrol.
Mas o quão esse efeito é realmente
considerável?
Em uma metanálise de ensaios clínicos
randomizados, Liu e colaboradorestestaram os feitos do resveratrol na
diminuição da pressão sanguínea. Pacientes que receberam resveratrolisolado por
no mínimo 2 semanas foram comparados com grupo controle onde a diferença tenha
sido apenas a ingestão de resveratrol.Os resultados apontaram que oresveratrol
não diminuiu a pressão sanguínea sistólica ou diastólica, mesmo considerando a interferência
do IMC, dose de resveratrol e duração de estudo3.
Emuma meta-análise de estudos de
coorte, Huxley & Neil (2003) verificaram que o consumo elevado de flavonol
na dieta, outro elemento importante presente não apenas no vinho, mas também em
alguns tipos de chás, frutas e vegetais, resultou em um menor risco de doenças
coronarianas. O chá verdee preto foramas principais fontes de flavonol no grupo
de maior consumo diário da substância; frutas e vegetais, como uvas, amendoins,
morangos, brócolis e cebola, nos grupos de menor consumo.O estudo, entretanto,
admite diversas limitações como a interferência de outros fatores nos
resultados (classe social, atividade física, tabagismo), o auto-relato que pode
ter alterado as relações propostas, e outros elementos da dieta (gordura,
colesterol, calorias totais) que podem explicar a diminuição de 20% no risco de
desenvolvimento de doenças coronarianas4.
Em outra revisão,Woo & Kim (2013)não
encontraram qualquer relação entre o consumo de flavonóides e redução no risco
de câncer gástrico ou coloretal, embora sugira uma fraca associação inversa
quando analisadas subclasses de flavonóis separadamente5. Cabe
destacar que o álcool está presente normalmente em concentrações de 10 a 14 %
em vinhos de mesa2, sendo considerado um dos principais vilões no
desenvolvimento de câncer gástrico. Em outro estudo, foi verificado que a
ingestão de cerveja e licores contribuiu positivamente para o desenvolvimento
de câncer gástrico, mas vinho não6.
Diante desses achados, questiona-se a
grande propaganda que se faz para o uso de suplementação de resveratrol para
prolongamento da expectativa de vida, redução de risco de doença coronariana e
câncer. Ainda assim, o flavonol parece ser um potencial alvo para novas
pesquisas que visam investigar não apenas os potenciais benefícios do vinho,
mas também de outras bebidas como os chás verde e preto, e frutas e vegetais,
mencionadas anteriormente.
Texto elaborado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Professora Tatiane da Silva Dal Pizzol
1. Estreicher,
S.K. Wine from neolithic times to the 21st century. Algora. New York. Algora
Publishing. 2006.
Disponível em: https://vinumvine.files.wordpress.com/2012/02/stefan-k-estreicher-wine-from-neolithic-times-to-the-21st-century.pdf
2.
Dermarderosian A.;Beutler, J. A. (Ed)
The Review of Natural Products: the most complete source of natural product
information. 7. ed. St. Louis: Facts and Comparisons, 2012.
3.
Liu Y, Ma W, Zhang P, He S, Huang D.
Effect of resveratrol on blood pressure: a meta-analysis of randomized
controlled trials. ClinNutr. 2015 Feb;34(1):27-34. doi: 10.1016/j.clnu.2014.03.009.
Epub 2014 Mar 31
4. Huxley
RR, Neil HA. The relation between dietary flavonol intake and coronary heart
disease mortality: a meta-analysis of prospective cohort studies. Eur J Clin Nutr. 2003
Aug;57(8):904-8.
5. Hae
Dong Woo and Jeongseon Kim. Dietary flavonoid intake and risk of stomach and
colorectal cancer. World
J Gastroenterol. 2013 Feb 21; 19(7): 1011–1019.
6.
Fang X, Wei J, He X, An P, Wang H, Jiang L, Shao D, Liang H, Li Y, Wang F, Min J. Landscape of
dietary factors associated with risk of gastric cancer: A systematic review and
dose-response meta-analysis of prospective cohort studies. Eur J Cancer. 2015
Dec;51(18):2820-32. doi: 10.1016/j.ejca.2015.09.010. Epub 2015 Nov 14
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